sexta-feira, 26 de setembro de 2014

FARMACOLOGIA II

1.6 Como as drogas funcionam?
 
As drogas precisam influenciar as funções corpóreas para terem um efeito terapêutico. Esse tipo de influência pode ser quantitativo, mas nunca pode ser qualitativo.
 
Como já foi mencionado, as drogas influenciam processos fisiológicos no organismo de uma maneira ou de outra. As drogas não podem, porém, criar novas funções celulares ou de tecidos (isso significa que uma influência quantitativa na fisiologia do organismo não é possível); em vez disso, elas têm a habilidade de influenciar a fisiologia do organismo de uma maneira quantitativa (influenciando, portanto, positivamente aquilo que o processo da doença alterou de uma maneira negativa).
As drogas podem aumentar ou diminuir as funções corpóreas, dependendo de seus próprios mecanismos de ação. Em outras palavras, eles podem aumentar ou estimular processos fisiológicos, ou diminuir, inibir ou bloquear esses processos.
Para que as drogas façam de fato efeito na fisiologia do organismo, elas precisam interagir com áreas-alvo específicas, às quais geralmente se refere como receptores de drogas (isto é, os alvos da ação da droga). A interação entre drogas e seus receptores é de natureza química, tornando a química orgânica e a bioquímica importantes como ciências de base no estudo das drogas.
Esses receptores de drogas ou alvos de drogas são complexos moleculares tridimensionais, capazes de interagir com moléculas de drogas para formar ligações químicas com elas. Comparadas com a estrutura complexa de proteínas e de macromoléculas biológicas contendo proteínas (como glicoproteínas e lipoproteínas) no organismo, as drogas são micromoléculas relativamente simples e pequenas. É a estrutura complexa dessas macromoléculas (moléculas grandes) que contêm proteínas que as torna alvo ideias para as drogas. Existem diferentes tipos de alvos de drogas ou receptores de drogas:
 
- Receptores de ligante específico: Drogas que se ligam a esses receptores na verdade têm como alvo os sítios de ligação das substâncias transmissoras de sinais normais, fisiológicas, que influenciam diretamente o funcionamento de células e tecidos. Esses receptores são encontrados por todo o corpo e ocorrem em todo o tecido glandular (endócrino e exócrino), tecido muscular (músculo cardíaco, esquelético e liso) e tecido nervoso. Macromoléculas contendo proteínas fornecem esses sítios receptores. As substâncias transmissoras de sinais são também denominadas de ligantes. Esses ligante podem ser:
 
- Neutransmissores (dopamina, noradrenalina e acetilcolina)
 
- Hormônios (adrenalina, ocitocina e insulina)
 
- Autacóides (histamina, serotonina e as prostaglandinas)
 
A maioria das drogas de uso terapêutico exerce seus efeitos na fisiologia do organismo, influenciando conjuntos específicos de receptores de ligantes. Receptores de tipo semelhante podem ser agrupados para formar os sistemas de receptores, que refletem sua capacidade de se conectar a ligantes (os sistemas de receptores adrenérgicos e colinérgicos)
Esses receptores podem ser definidos de forma ampla como sendo moléculas celulares que interagem com ligantes e drogas para estabelecer ligações químicas com eles. Depois de conectas, o complexo ligante-receptor (ou complexo droga-receptor) que se formou dá origem a mudanças bioquímicas nas células e nos tecidos-alvo que, então, produzem os efeitos biológicos desejados.
Receptores de ligantes podem ser classificados como receptores de membrana ou receptores intracelulares:
 
- Receptores de membrana: Esses receptores são estruturas moleculares que se conectam a ligantes q que são encontradas na superfície da membrana plasmática das células. Além disto, eles também possuem sítios efetores na superfície interna da membrana e são, portanto, também chamados de receptores transmembrana
 
- Receptores intracelulares: Receptores intracelulares agem como áreas-alvo primárias para esteroides (hormônios esteroides, como os andrógenos, estrógenos e glucocorticosteróides, e os metabólitos da vitamina D)
 
- Receptores de enzimas: Algumas drogas tomam como alvo os receptores de enzimas e, consequentemente, inibem as funções fisiológicas normais das enzimas mas em questão. Essas drogas agem ou como inibidores competitivos (o que significa que elas competem com os verdadeiros substratos da enzima), ou como inibidores não competitivos (o que significa que elas modificam a conformação dessas enzimas)
 
- Receptores carregadores de transporte: Proteínas de transporte (carregadoras) estão envolvidas na difusão facilitada e no transporte ativo de íons e neurotransmissores (entre outras coisas), através da membrana plasmática. Drogas que se ligam a essas proteínas carreadoras inibirão o funcionamento normal dessas proteínas competindo com os substratos endógenos que deveriam ser transportados pelas carregadoras em questão.
 
Algumas drogas podem ligar-se a proteínas do plasma ou de tecidos, tornando-as farmacologicamente inativas em seu estado conectado. De um ponto de vista farmacológico, essas proteínas não constituem alvo verdadeiro de drogas, mas influenciam a distribuição das drogas em questão.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

FARMACOLOGIA I

1.5 Princípios básicos da Farmacoterapia

A terapia com drogas deve ser bem planejada, segura e conveniente, e promover uma boa cooperação do paciente.

1.5.1 Aspectos gerais da Terapia com Drogas

O tratamento com drogas deve ser sempre personalizado de acordo com as necessidades e as exigências do paciente. Por causa da significativa variação entre indivíduos, nem todos os pacientes exibirão a mesma taxa de biotransformação da droga.
A decisão de optar pela terapia com drogas deve ser sempre sensata e racional. O resultado que o plano de tratamento tem por objetivo deve ser realista e levar em consideração que ação se pode esperar da drogas disponíveis sob condições específicas, quando dadas ao paciente em questão. Algumas vezes, as drogas podem trazer um benefício apenas parcial ao paciente ou os possíveis benefícios podem ser superados por efeitos colaterais inconvenientes seja pela toxicidade de uma droga em particular, sela pela de um protocolo de tratamento.
Muitos fatores diferentes determinam a escolha e os possíveis resultados de uma terapia com drogas. Esses fatores incluem:

- Idade e sexo.

- Características físicas (altura e massa corporal).

- Dieta e estado nutricional.

- Fatores genéticos.

- Respostas e reações anteriores a tratamentos com drogas (inclusive reações alérgicas e anafilaxia).

- Outras drogas em uso que podem desencadear interações medicamentosas.

- A influência de doenças existentes e preexistentes.

- Estado de saúde e padrões gerais de vida.

- Efeitos indesejáveis e tóxicos das drogas em questão.

- Fertilidade, gravidez e amamentação.

- Cooperação do pacientes.

O tratamento com drogas deve ser sempre cuidadosamente ajustado às necessidades e reações particulares dos pacientes em questão. A biotransformação varia significativamente entre indivíduos (isto é, existe variação entre indivíduos), tornando as dosagens-padrão algo indesejável. A variação entre indivíduos é produto das diferenças genéticas entre os seres humanos. Pacientes que estão bem informados tendem a mostrar níveis mais altos de cooperação com seus esquemas de tratamento.

1.5.2 Vantagens e Desvantagens do uso de drogas

A maioria das drogas exibira efeitos indesejáveis juntamente com os efeitos terapêuticos esperados delas.
As drogas alteram processos fisiológicos e bioquímicos no organismo, mãos não podem criar novas funções corpóreas. O tratamento com drogas é, portanto, limitado à influência quantitativa da fisiologia alterada associada à doença; nas doses corretas, pode-se esperar que as drogas exerçam seus efeitos terapêuticos no organismo com relativa segurança. A eficácia de uma droga é a máxima resposta que ela é capaz de produzir.
Juntamente com seus efeitos terapêuticos, a maioria das drogas irá, no entanto, também influenciar certos processos ou funções que não fazem parte do plano de tratamento clínico desejado. Esses efeitos indesejáveis, ou adversos, podem ser caracterizados como a seguir:

- Efeitos colaterais: Esses efeitos são atribuíveis ao mecanismo de ação da droga. Eles ocorrem juntamente com os efeitos que a droga deveria produzir e estão associados com doses terapêuticas normais. Diminuir a dosagem ou mudar o esquema de drogas para incluir uma droga mais específica (seletiva) reduzirá esses efeitos inconvenientes. Em alguns casos, entretando, as drogas podem até mesmo ser administradas para a específica utilização de sues efeitos colaterais.

- Efeitos tóxicos: Uma pesquisa completa durantes as fases de desenvolvimento de uma nova droga leva à previsibilidade de seus efeitos tóxicos, que são dose-dependentes e, frequentemente, se manifestam durante a superdosagem (intencional ou acidental). A superdosagem acidental pode ocorrer em pacientes com função hepática ou renal prejudicada, levando a uma biotransformação e a uma excreção deficiente das drogas. Os efeitos tóxicos podem levar a danos de tecidos, órgãos ou sistemas de órgãos , o que pode ser danoso para o feto.

- Toxicidade a tecidos, órgãos e sistemas de órgãos: Fígado, rins, pulmões, trato gastrointestinal, sistema cardiovascular, sistema nervoso, medula óssea e tegumentos (pele) são particularmente sensíveis à toxicidade das drogas. Falência de órgãos, supressão da medula óssea resultando em anemia aplástica, úlceras pépticas e fotosensibilidade são apenas uns poucos exemplos dos efeitos da toxicidade das drogas.

- Toxicidade durante a gravidez: As drogas podem ser tóxicas para o embrião ou feto em desenvolvimento. O primeiro trimestre da gestação (ou seja, o estágio do desenvolvimento do embrião e da organogênese) tem particular importância , já que os efeitos teratogênicos de certas drogas influenciarão o desenvolvimento normal. Um teratógeno é uma droga (ou outra substância química) que pode afetar o desenvolvimento normal do embrião e causar defeitos congênitos (inatos) reconhecíveis.  Durante o segundo e terceiro trimestre, as drogas afetam apenas o crescimento e a maturação do feto, já que o organogênese se completa durante o terceiro mês de gestação. Durante os estágios iniciais da gravidez, a gestante pode ainda nem estar ciente do fato de que está carregando um embrião em desenvolvimento. Ela pode danificar, sem saber, a criança, por meio do uso descuidado ou indiscriminado de drogas.

- Efeitos mutagênicos: As drogas, em geral, devem também ser vistas como sendo potencialmente mutagênicas. A mutagênese causa efeitos genéticos quando afeta as células germinativas em desenvolvimento durante os anos reprodutivos. Também aqui, como na gestação , um cuidado extremo deve ser tomado na decisão do tratamento com drogas apropriado para a doença ou desiquilíbrio mental. Adolescentes e jovens que são sexualmente ativos devem ser alertados sobre os efeitos danoso que as drogas, inclusive o etanol, podem ter sobre os espermatozoides, os óvulos ou a gestação.
 
- Meta-reações: Essas reações são inesperadas e podem ocorrer independentemente da dosagem ou do perfil de toxicidade da droga em questão. As meta-reações incluem:
 
- Alergias a drogas: Graças a seu tamanho reduzido, as moléculas de grande parte das drogas normalmente agem como haptenos durante as reações alérgicas. Haptenos são alergenos pequenos e incompletos que se tornam completos e reconhecíveis pelo sistema imune quando ligados a proteínas do corpo. Uma reação alérgica se segue, com células do plasma liberando anticorpos, e mastócitos e basófilos liberando seus mediadores químicos (inclusive histamina, serotonina, prostaglandinas, leucotrienos, etc). Uma resposta primária relativamente lenta e frequentemente insignificante (na primeira exposição) é seguidapor respostas secundárias (em exposições subsequentes ao mesmo alergeno) que se agravam em sua acuidade e severidade.
Reações alérgicas a drogas incluem reações imediatas de hipersensibilidade (incluindo anafilaxia, broncoespasmos e urticária), a assim chamada doença do soro (uma comibnação de erupção cutânea, linfadenopatia, febre e alterações inflamatórias, com um início retardado em ate duas semanas) e reações retardadas de hipersensibilidade (inclusive erupções cutâneas, dermatite exfoliativa e necrose epidérmica tóxica).
 
- Defeitos genéticos que resultam em meta-reações: Quando algumas drogas são administradas a indivíduos com certos defeitos genéticos que alteram a bioquímica de processos metabólicos específicos no organismo, meta-reações como a porferia, a gota ou a hipertermia maligna, desencadeadas por drogas, pode, acontecer.
 
- Ação paradoxal da droga: É bem sabido que certos depressores do sistema nervoso central, como as benzodiazepinas, os anti-histamínicos e as fenotiazinas multipotentes (por exemplo, a trimeprazina, que é frequentemente prescrita para crianças, por seus efeitos calmantes durante a fase pré-operatória da modalidade cirúrgica de tratamento), às vezes causam, na verdade, a estimulação do SNC em crianças e idosos. Por outro lado, a desordem de hiperatividade e déficit de atenção, ou DHDA, pode responder a estimulantes do SNC como o metilfenildato (uma droga que é usada nessas crianças "hiperativas" por seu conhecido efeito paradoxal). Essas meta reações são ditas paradoxais porque as reações que essas drogas desencadeiam são os opostos exatos daquelas que podem ser prontamente esperadas de seus mecanismos de ação.
 
- Dependência de drogas: Alguns indivíduos desenvolvem um forte impulso de usar repetidamente drogas psicoativas, por causa de seus efeitos prazerosos e do estado mental alterado que elas produzem. A dependência pode ser tanto física quanto psicológica. A dependência física é responsável por sintomas de abstinência quando o uso da droga é descontinuado. A dependência psicológica produz o assim chamado "desejo da droga", que fortalece o uso e o abuso contínuo da droga.
 
- Tolerância: diz-se que a tolerância a drogas se desenvolve quando se torna necessário aumentar a dosagem para atingir o mesmo nível de efeito terapêutico que era alcançado quando a droga foi introduzida pela primeira vez. A tolerância pode acompanhar a dependência da droga ou pode ter uma significância farmacoterapêutica especial quando é de natureza farmacodinâmica (envolvendo uma reduzida capacidade de resposta dos receptores) ou farmacocinética (envolvendo uma taxa aumentada de biotransformação).  Uma tolerância aguda aos efeitos de uma droga, devida a uma causa farmacodinâmica que se desenvolve rapidamente, é denominada taquifilaxia.
 
Sempre que novas drogas ou medicamentos são desenvolvidos, o objetivo é desenvolver produtos com melhor eficácia possível, na menor dosagem possível e com o mínimo possível de efeitos indesejáveis. Infelizmente, frequentemente esses objetivo não é completamente realizável.
 
1.5.3 Populações especiais de pacientes
 
Certas precauções e adaptações são necessárias quando se rescrevem ou administram drogas a determinadas populações de pacientes que são particularmente vulneráveis aos efeitos dessa forma de influência química em seus processos corporais.
 
- Pacientes Vulneráveis: que requerem adaptações especiais e medidas de precaução em seus esquemas de tratamentos a com drogas, incluem:
 
- Recém-nascidos e crianças: Por causa de seu tamanho menor e do alto percentual de água no corpo, recém-nascidos e crianças precisam de dosagens adaptadas que devem levar em consideração também a idade e o estágio de desenvolvimento. A biotransformação no fígado, por exemplo, e mais lenta em neonatos, mas em crianças encontra-se uma taxa metabólica aumentada. Os neonatos mostram também uma taxa mais lenta de eliminação renal de certas drogas. Bebês prematuros apresentam percentual ainda maior de água no corpo do que os neonatos. Várias formulas tem sido propostas para calcular as dosagens pediátricas das drogas, mas a experiência e as recomendações precisas do fabricante devem oferecer um previsão ainda maior na prática clínica.
Três formulas que são frequentemente encontradas são a Regra de Augsburgo, a Regra de Clark e o Método do Percentual de Catzel. Todos os três métodos têm seus pontos fortes e fracos, e devem ser utilizados com bom senso. Crianças não podem ser vistas simplesmente como miniadultos, e as dosagens pediátricas nunca devem exceder aquelas administradas aos adultos.
 
- Mulheres grávidas e em período de amamentação: Os efeitos de agentes teratogênicos na criança em formação foram assinalados no parágrafo 1.5.2 durante toda gestação, a placenta age como uma barreira entre os sistemas circulatórios da mãe e da criança; essa barreira, no entanto, não é muito eficiente quando se trata de moléculas de drogas. Todas as drogas lipossolúveis são capazes de cruzar a barreira placentária por simples difusão. A maioria das drogas hidrossolúveis também pode cruzar a placenta, por causa da relativa ineficiência da barreira. A heparina é uma exceção.
Durante a amamentação, as drogas podem passar da corrente sanguínea para o leite, especialmente se elas forem lipossolúveis ou drogas básicas (drogas básicas tenderão a se ionizar no leite materno, já que este é mais ácido que o sangue), ou se elas forem moléculas hidrossolúveis com uma massa molecular relativa menor que 100.
Possuímos dados limitados à nossa disposição sobre os reais perfis de segurança de muitas drogas durante a gestação e amamentação. As drogas devem ser, portanto, sempre usadas com cuidado. É de grande importância a consulta a uma referência apropriada sobre drogas, quando se prescrevem medicamentos a mulheres grávidas ou em período de amamentação. Teratógenos conhecidos devem ser evitados durante a gestação; entretanto, podem ocorrer situações em que os benefícios de tratar a mãe com uma certa droga sejam maiores do que o dano que a droga possa vir a causar.
Isotretinoína, Metotrexato, Fenitoína, Valprato de sódio e Varfarina são exemplos bem conhecidos de drogas teratogênicas; o uso de etanol durante a gravidez pode causar a síndrome alcoólica fetal.
 
- Pacientes com comprometimento hepático e renal: Tanto o fígado como os rins têm um papel importante no término da ação da droga no corpo. As dosagens de drogas requererão um ajuste cuidoso no caso de função hepática ou renal comprometida, já que uma biotransformação retardada ou uma excreção mais lenta podem levar ao acúmulo de drogas no corpo e a uma subsequente toxicidade. As dosagens das drogas podem ser diminuídas ou os intervalos entre as doses aumentados.
 
- Os idosos: Esses pacientes frequentemente têm suas funções hepáticas e renais prejudicadas, por causa do efeito da idade ou de patologias anteriores nesses órgãos, ou como seqüelas de problemas como a insuficiência cardíaca particular do uso de drogas em idosos é a polimedicação (o uso simultâneo de múltiplas drogas).

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

FARMACOLOGIA

1.4 O que é Farmacologia?

Para estarmos capacitados a usar e administrar drogas (ou medicamentos) eficientemente, devemos saber o que esperar delas e o que acontecerá com elas quando forem introduzidas no corpo.
A Farmacologia é o estudo científico das drogas, seus efeitos desejáveis e indesejáveis, e seus usos. A Farmacologia ou ciência das drogas possui duas grandes subdivisões, a farmacodinâmica e a farmacocinética.
 
As duas grandes subdivisões da farmacologia respondem às duas questões mais fundamentais que podem ser colocadas sempre que a terapia com drogas é considerada. Essas questões são:
 
- O que a droga fará com o organismo?
- O que o organismo fará com a droga?
 
A farmacodinâmica nos fornece respostas para a primeira pergunta, enquanto a farmacocinética responde à segunda.
 
A farmacodinâmica descreve os efeitos fisiológicos que as drogas têm em células ou organismos vivos (como o corpo humano) e mostra como as drogas influenciam as funções corporais por meio de mudanças bioquímica nos fluidos e tecidos corporais. A farmacodinâmica, portanto, descreve o mecanismo de ação de uma droga e os seus efeitos terapêuticos. A farmacodinâmica também nos dá indicações de como a concentração da droga (ou dosagem) está relacionada à subsequente extensão de seus efeitos terapêuticos.
A farmacocinética descreve a absorção, a distribuição, o metabolismo (ou biotransformação) e a eliminação das drogas, em outras palavras, os efeitos dos processos corporais nas moléculas das drogas, como uma função do tempo (isto é, medidos como o passar do tempo). Alguns autores se referem aos quatro processos como os processos ADME.
A farmacologia também inclui as seguintes áreas especializadas de estudo, mas não é, de maneira alguma, limitada a elas:
 
- Farmacoterapêutica: A ciência do uso de drogas no tratamento das doenças.
 
A farmacoterapia se refere ao próprio programa de tratamento com drogas de um paciente.
 
- Farmacologia clínica: Durante o desenvolvimento e a fase de testes de novas drogas, a segurança e a utilidade da droga em questão devem ser determinadas da seguinte maneira:
 
- Testes pré-clínicos: (testes em laboratórios e com animais) são usados para determinar as propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas básicas da droga, e para detectar toxicidade aguda, subaguda e crônica. O objetivo é detectar quaisquer efeitos tóxicos que a droga possa ter sobre as células, tecidos e órgãos, e também efeitos carcinogênicos (que induzem ao câncer), mutagênicos (que causam mutações perceptíveis). Os testes pré-clínicos também ajudam os cientistas a estabelecer o índice terapêutico da droga (a diferença entre a dosagem terapêutica mínima e a dosagem tóxica).
- Em seguida, os testes clínicos (testes em seres humanos) devem estabelecer se efeitos colaterais inconvenientes (dos quais os animais são incapazes de reclamar) ocorrem, qual deve ser o cronograma ideal de dosagem e como a nova droga se compara a tratamentos com drogas existentes. A farmacologia clínica engloba o teste de drogas em seres humanos, em que a supervisão médica é essencial para a condução de pesquisas seguras e éticas.
O metabolismo das drogas é significativamente diferente em animais e seres humanos. Portanto, os princípios cinéticos e dinâmicos, e o perfil tóxico de uma droga também continuam a ser investigados durante os testes clínicos. Esses testes são conduzidos em três fases. Durante a Fase 1, a droga é testada em um pequeno número de indivíduos saudáveis. A Fase 2 administrada a droga a um número seleto de pacientes doentes, enquanto na Fase 3 são conduzidos testes extensivos, de significância estatística. Depois de iniciada a comercialização da droga, uma nova fase, a farmacovigilância, começa e, então os efeitos colaterais, as indicações adicionais, a eficácia e tolerância podem ser investigados por completo.
Os testes clínicos, devem ser cuidadosamente planejados, bem projetados e controlados. Os testes randomizados são os mais frequentemente usados. Um teste único é normalmente inadequado para a determinação do desempenho da nova droga em comparação com os tratamentos-padrão que já estão em uso (ou com placebos). Isso só deve aos recursos limitados e ao pequeno número de pacientes que normalmente estão disponíveis para inclusão em um teste único. Por meio da combinação de resultados de diferentes testes randomizados  (que atendam aos critérios determinados para o controle, a validade e a confiabilidade de cada um) em um único panorama de todos os dados disponíveis (ou seja, o emprego de uma meta-analise dos resultados da pesquisa), esses problema pode ser superado.
 
- Farmacologia comparativa: Comparações são feitas entre resultados obtidos de testes em animais versus testes em seres humanos. A farmacologia comparativa precisa estabelecer se os resultados ou prognósticos relacionados ao desempenho de uma droga específica em animais podem ser aplicados aos seres humanos.
 
- Farmacologia molecular: é o estudo da interação entre as moléculas das drogas e as moléculas biológicas de organismos vivos.
 
- Farmacogenética: É a área da ciência das drogas que estuda a suscetibilidade genética dos indivíduos a drogas específicas. A constituição genética de um certo indivíduo pode, por exemplo, determinar a que taxa as drogas serão metabolizadas em seu corpo. Além disso, a resposta de um indivíduo específico a uma certa droga pode ser significativamente alterada na presença de um defeito genético.
 
- Toxicologia: É o estudo das toxinas e seus antídotos. Na farmacologia, a toxicologia também como os efeitos tóxicos (ou danosos) das drogas na overdose. A toxicidade se refere às propriedades tóxicas de substâncias químicas, como as drogas.
  

FARMACOLOGIA



Capítulo 1 - Entendendo os Princípios básicos da Farmacologia

Capítulo 2 - Princípios Farmacocinéticos

Capítulo 3 - Princípios Farmacodinâmicos

Capítulo 4 - Neurotransmissores e seus Sistemas de Receptores
 
Capítulo 5 - As drogas e o Sistema Nervoso
 
Capítulo 6 - As drogas e o Sistema Cardiovascular
 
Capítulo 7 - Corticoesteróides e as drogas Antiinflamatórias não Esteroides (AINEs)
 
Capítulo 8 - As drogas e o Sistema Respiratório
 
Capítulo 9 - As drogas e o Trato Gastrointestinal
 
Capítulo 10 - As drogas e Sistema Geniturinário e Reprodutivo
 
Capítulo 11 - O Tratamento Antimicrobiano as Infecções e Infestações
 
Capítulo 12 - Aplicações Clinicas selecionadas
 
 
Capítulo 1 - Entendendo os Princípios básicos da Farmacologia
 
1.1 Introdução à Ciência da Farmacologia
 
Drogas são substâncias químicas usadas para prevenir, diagnosticar e tratar doenças. A farmacologia é o estudo  científico das drogas, de onde elas vêm e como funcionam.
 
1.1.1 Qual é o papel das drogas no tratamento das doenças?
 
O tratamento das doenças pode conter uma variedade de modalidades, que têm como objetivo remover o agente causador, aliviar os sintomas, reduzir o sofrimento e levar a um resultado satisfatório. Essas modalidades podem incluir procedimentos invasivos de diagnósticos, reparo ou remoção cirúrgica do tecido doente, e controle médico por meio do uso de tratamento com drogas ou farmacoterapia.
 
1.1.2 As modalidades de tratamento: clínica, cirúrgica e psiquiátrica
 
Os pacientes normalmente se encaixam em uma de três categorias: clínica, cirúrgica ou psiquiátrica, ou numa combinação delas. No entanto, todas as três categorias de pacientes podem requerer tratamento com drogas de uma forma ou de outra.
 
1.2 Que são Drogas?
 
Mudanças fisiológicas ou mentais que são ocasionadas pela doença podem ser positivamente influenciadas com um arranjo de substâncias químicas chamadas drogas.
 
Formas comuns de apresentação encontradas na prática clínica incluem (mas não estão limitadas a):
 
- Aerosol
- Cápsulas
- Creme
- Elixir
- Emulsão
- Gel
- Grânulos
- Loção
- Pomada
- Preparações oftálmicas e auriculares
- Preparações parenterais para injeção
- Pasta
- Supositórios vaginais
- Pós
- Adesivos para administração transdérmica
- Supositório
- Suspensão
- Xarope
- Comprimidos
- Líquidos voláteis e gases
 
Drogas são substâncias químicas que influenciam processos fisiológicos ou mentais no organismo. Quando utilizadas com bom senso e supervisão, as drogas mostrarão seus efeitos biológicos benéficos na presença de uma doença física ou mental.
 
1.3 Dando nomes às Drogas e aos Medicamentos
 
Nomes genéricos são normalmente reconhecidos internacionalmente, enquanto nomes comerciais são exclusivos dos fabricantes de produtos específicos. Pode-se mesmo dizer que drogas possuem nomes genéricos e medicamentos possuem nomes comerciais.
 
Os nomes comerciais, cada nome comercial é registrado como uma marca pertencente ao fabricante em questão. Os fabricantes utilizam esses nomes comerciais registrados para divulgar e vender seus produtos.
O nomes genéricos, por outro lado, identificam a droga ou as drogas contidas de fato no produtos do fabricante. Algumas vezes uma droga específica é combinada com uma ou mais outras drogas em um único produto.
 
O Atenolol, por exemplo, pode ser encontrado em combinação com o diurético Clortalidona. Portanto, faz sentido estudar a farmacologia das drogas usando os nomes genéricos apropriados. Existem, no entanto, alguns poucos causos em que os nomes genéricos diferem de um país para outro - mesmo entre dois países onde fala a mesma língua. Quando se estudam textos dos Estados Unidos, por exemplo, os leitores perceberão que Acetaminofen é o nome genérico dado a uma droga genérica que é chamada de Espinefrina nos Estados Unidos é mais conhecida no Brasil como Adrenalina.
Os nomes genéricos identificam as várias drogas que são usadas na prática clínica. Essas drogas constituem uma variedade de produtos mendicamentosos que carregam os nomes comerciais e vendidos a distribuidores, farmácias e consumidores finais.