1.6 Como as drogas funcionam?
As drogas precisam influenciar as funções corpóreas para terem um efeito terapêutico. Esse tipo de influência pode ser quantitativo, mas nunca pode ser qualitativo.
Como já foi mencionado, as drogas influenciam processos fisiológicos no organismo de uma maneira ou de outra. As drogas não podem, porém, criar novas funções celulares ou de tecidos (isso significa que uma influência quantitativa na fisiologia do organismo não é possível); em vez disso, elas têm a habilidade de influenciar a fisiologia do organismo de uma maneira quantitativa (influenciando, portanto, positivamente aquilo que o processo da doença alterou de uma maneira negativa).
As drogas podem aumentar ou diminuir as funções corpóreas, dependendo de seus próprios mecanismos de ação. Em outras palavras, eles podem aumentar ou estimular processos fisiológicos, ou diminuir, inibir ou bloquear esses processos.
Para que as drogas façam de fato efeito na fisiologia do organismo, elas precisam interagir com áreas-alvo específicas, às quais geralmente se refere como receptores de drogas (isto é, os alvos da ação da droga). A interação entre drogas e seus receptores é de natureza química, tornando a química orgânica e a bioquímica importantes como ciências de base no estudo das drogas.
Esses receptores de drogas ou alvos de drogas são complexos moleculares tridimensionais, capazes de interagir com moléculas de drogas para formar ligações químicas com elas. Comparadas com a estrutura complexa de proteínas e de macromoléculas biológicas contendo proteínas (como glicoproteínas e lipoproteínas) no organismo, as drogas são micromoléculas relativamente simples e pequenas. É a estrutura complexa dessas macromoléculas (moléculas grandes) que contêm proteínas que as torna alvo ideias para as drogas. Existem diferentes tipos de alvos de drogas ou receptores de drogas:
- Receptores de ligante específico: Drogas que se ligam a esses receptores na verdade têm como alvo os sítios de ligação das substâncias transmissoras de sinais normais, fisiológicas, que influenciam diretamente o funcionamento de células e tecidos. Esses receptores são encontrados por todo o corpo e ocorrem em todo o tecido glandular (endócrino e exócrino), tecido muscular (músculo cardíaco, esquelético e liso) e tecido nervoso. Macromoléculas contendo proteínas fornecem esses sítios receptores. As substâncias transmissoras de sinais são também denominadas de ligantes. Esses ligante podem ser:
- Neutransmissores (dopamina, noradrenalina e acetilcolina)
- Hormônios (adrenalina, ocitocina e insulina)
- Autacóides (histamina, serotonina e as prostaglandinas)
A maioria das drogas de uso terapêutico exerce seus efeitos na fisiologia do organismo, influenciando conjuntos específicos de receptores de ligantes. Receptores de tipo semelhante podem ser agrupados para formar os sistemas de receptores, que refletem sua capacidade de se conectar a ligantes (os sistemas de receptores adrenérgicos e colinérgicos)
Esses receptores podem ser definidos de forma ampla como sendo moléculas celulares que interagem com ligantes e drogas para estabelecer ligações químicas com eles. Depois de conectas, o complexo ligante-receptor (ou complexo droga-receptor) que se formou dá origem a mudanças bioquímicas nas células e nos tecidos-alvo que, então, produzem os efeitos biológicos desejados.
Receptores de ligantes podem ser classificados como receptores de membrana ou receptores intracelulares:
- Receptores de membrana: Esses receptores são estruturas moleculares que se conectam a ligantes q que são encontradas na superfície da membrana plasmática das células. Além disto, eles também possuem sítios efetores na superfície interna da membrana e são, portanto, também chamados de receptores transmembrana
- Receptores intracelulares: Receptores intracelulares agem como áreas-alvo primárias para esteroides (hormônios esteroides, como os andrógenos, estrógenos e glucocorticosteróides, e os metabólitos da vitamina D)
- Receptores de enzimas: Algumas drogas tomam como alvo os receptores de enzimas e, consequentemente, inibem as funções fisiológicas normais das enzimas mas em questão. Essas drogas agem ou como inibidores competitivos (o que significa que elas competem com os verdadeiros substratos da enzima), ou como inibidores não competitivos (o que significa que elas modificam a conformação dessas enzimas)
- Receptores carregadores de transporte: Proteínas de transporte (carregadoras) estão envolvidas na difusão facilitada e no transporte ativo de íons e neurotransmissores (entre outras coisas), através da membrana plasmática. Drogas que se ligam a essas proteínas carreadoras inibirão o funcionamento normal dessas proteínas competindo com os substratos endógenos que deveriam ser transportados pelas carregadoras em questão.
Algumas drogas podem ligar-se a proteínas do plasma ou de tecidos, tornando-as farmacologicamente inativas em seu estado conectado. De um ponto de vista farmacológico, essas proteínas não constituem alvo verdadeiro de drogas, mas influenciam a distribuição das drogas em questão.
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