2.2.1 A Membrana plasmática das
células e como as drogas a atravessam
Membranas dinâmicas, finas e
flexíveis que separam os ambientes interno e externo que envolvem as células e
suas organelas intracelulares. As membranas plasmáticas formam barreiras entre
os compartimentos líquidos intracelular e extracelular das células dos tecidos,
A permeabilidade seletiva da membrana permite que existam diferenças na
composição dos líquidos intracelular e extracelular. Os íons de sódio, por
exemplo, são encontrados em concentrações muito mais altas no líquido
extracelular do que no intracelular. O oposto é verdadeiro para os íons de
potássio.
A membrana plasmática é composta
de duas camadas de moléculas de fosfolipídios, intercaladas com moléculas de
colesterol e proteínas globulares de membrana.
Moléculas de carboidratos
projetam-se para fora da superfície da membrana. Essa camada bimolecular tem a
espessura de apenas 10 nm.
As moléculas de fosfolipídios possuem uma
configuração característica de “cabeça” e “dupla cauda”. Um grupo fosfato polar
e hidrofílico (hidrossolúvel) forma a parte da cabeça, enquanto a dupla causa é
constituída de duas cadeias de ácido graxos polares e hidrofóbicas
(lipossolúvel). As duas camadas de moléculas de fosfolipídios, graças a suas
características fisico-químicas especificas, estão orientadas de maneira a
permitir que as cabeças façam fronteira com as duas fases aquosas (os meios
intra e extracelulares). Isso significa que as caudas hidrofóbicas estão
orientadas uma em direção à outra e constituem a fase lipídica da membrana.
A proteínas de membrana se encaixam
em um desses dois grupos: proteínas integrais ou proteínas periféricas. As
proteínas transmembrana são proteína integrais que atravessam toda a espessura
da membrana. Elas podem ser também divididas em proteínas carregadoras e
proteínas de canal. As proteínas periféricas são encontradas na superfície
interna ou na parte externa da membrana. Na superfície interna, essas proteínas
estão geralmente ligadas a proteínas integrais e estão envolvidas na
transdução de sinais, e na regulação e controle das funções intracelulares.
Algumas proteínas de membrana
também agem como enzimas catalíticas. Catalisadores elevam a taxa de reações
químicas sem tomar parte na reação e sem estar presentes em qualquer de seus
produtos. Essas enzimas catalisam várias reações celulares.
Proteínas de canal formam
pequenos poros ou canais aquosos na membrana. Esses canais servem de passagem
para que moléculas polares e íons selecionados atravessem a membrana. Essas
moléculas, entretanto, precisam ser extremamente pequenas (ou seja, devem ter
massa molecular igual ou menor que 100). Os canais que permitem a passagem de
cátions e ânions específicos através da membrana são chamados canais de íons.
Esses canais podem ser controlados (por meio de voltagem ou de ligantes) para
regular o movimento de íons através deles. Moléculas de água também atravessam
a membrana por esses canais ou poros. Proteínas carregadoras, por outro lado,
estão envolvidas no transporte ativo de moléculas ou íons, ou na difusão
facilitada e na troca dessas partículas.
Moléculas de carboidratos na
superfície da célula podem estar ligadas a lipídios, para formar glicolipídios,
ou a proteínas, para formar glicoproteínas ou proteoglicanas. As proteínas, com
seus constituintes de carboidratos, conferem à membrana uma carga negativa
voltada ao exterior e também fornecem os sítios receptores tridimensionais
exclusivos aos quais os hormônios, os neurotransmissores e os autacóides podem
se ligar.
As características especiais da
membrana plasmática explicam a sua permeabilidade seletiva. As moléculas de
drogas, que são estranhas ao organismo humano, precisam utilizar os processos
de transporte disponíveis que lhes permitirão atravessa de fato essas
membranas. Portanto, as vias pelas quais as moléculas das drogas podem
atravessar a membrana plasmática incluem:
Difusão passiva simples: Esse
processo de transporte não requer energia celular, já que as moléculas possuem
uma energia cinética inerente que as move ao longo de seus gradientes de
concentração a partir de uma área de concentração mais alta para uma área de
concentração mais baixa. Moléculas lipossolúveis pequenas e apolares, como os
gases respiratórios O2 e CO2, atravessam a fase lipídica com facilidade,
utilizando a difusão lipídica simples e passiva. Canais controlados de íons
permitem que cátions e ânions selecionados se difundam através deles, ao longo de
seus gradientes eletroquímicos. Moléculas polares e hidrossolúveis que são
suficientemente pequenas podem, portanto, mover-se facilmente através de canais
ou poros na membrana também por difusão passiva, mas isso é chamado de difusão
aquosa. Uma molécula de CO2 tem uma massa molecular relativa de 44, enquanto a
água tem uma massa molecular de apenas 18. Para comparação, uma molécula de
glicose tem uma massa molecular de 180, e a proteína plasmática albumina tem
uma massa molecular entre 68.000 e 69.000.
Difusão facilitada: Os carregadores
estão envolvidos na movimentação de moléculas maiores que são incapazes de
simplesmente difundir-se pela fase lipídica e através da membrana. O processo
não requer energia celular.
Transporte ativo: algumas
moléculas requerem transporte através da membrana plasmática contra seus
gradientes de concentração. Para executar essa tarefa, energias e proteínas
carregadoras são necessárias. A bomba NA+ K+ ATPase é um excelente exemplo de um processo
de transporte ativo. Ela utiliza diretamente a adenosina trifosfato (ATP). A
adenosina trifosfato (ATPase) é uma enzima ligada à membrana que atua como
carregadora. Essa bomba ajuda a manter a alta concentração intracelular do íon
potássio e a alta concentração extracelular do íon sódio.
Proteínas carregadoras exibem
especificidade por seus substratos particulares (as substâncias que elas
geralmente carregam) e podem ficar saturadas. As drogas que utilizam
carregadores de transporte precisam assemelhar-se aos substratos em questão e
competição com as substâncias naturais que deveriam ser carregadas. O número de
drogas que atendem os requisitos estruturais para o transporte carreado é muito
limitado.
A partir da explicação supracitada,
torna-se claro que certas propriedades físico-químicas das moléculas das drogas
determinarão também sua habilidade de atravessar as membranas plasmáticas (ou
outras barreiras biológicas mais especializadas). Essas características são:
Lipossolubilidade: Drogas que são
mais lipossolúveis tendem a penetrar as membranas plasmáticas mais facilmente.
A propriedade físico-química em questão e a do coeficiente de partição
lipídio-água da droga, que expressa a solubilidade relativa da droga em
lipídios, em oposição à água. Drogas com altos coeficientes de partição são
denominadas lipossolúveis. Aqueles que têm o coeficiente acentuadamente abaixo
de 0,1 são ditas hidrossolúveis. Drogas lipossolúveis podem ainda, entretanto,
dissolver-se facilmente em água. Apenas moléculas não ionizadas são
lipossolúveis. Moléculas de drogas hidrossolúveis que são suficientemente
pequenas podem atravessar as membranas plasmáticas por meio de difusão aquosa
por canais ou poros na membrana. O etanol, por exemplo, tem uma massa molecular
menor que 50.
Tamanho das moléculas das drogas:
A maioria das drogas tem massas moleculares relativas muito baixa (menores que 1.500,
com a maioria apresentando de fato massas moleculares menores que 500). Mesmo
no caso de drogas lipossolúveis, quanto maior a massa molecular mais difícil
será a passagem das moléculas através da membrana plasmática. Assim, quanto
menor o tamanho de suas moléculas mais facilmente as drogas atravessarão as
membranas plasmáticas.
Ionização das moléculas das
drogas: Moléculas carregadas, ou as altamente polares, podem apresentar cargas
que são complementares à superfície glicoproteína da membrana plasmática,
tornando difícil a sua passagem do compartimento extracelular para o
intracelular. Moléculas que apresentam cargas similares àquelas da superfície
celular podem ser repelidas. Moléculas que não apresentam cargas ou exibem
polaridade são denominadas moléculas não ionizadas ou apolares. Essas moléculas
são capazes de atravessar as membranas muito mais facilmente do que as que
possuem cargas. A parafina líquida, por exemplo, apresenta grandes moléculas
orgânicas que carregam grupos hidrofóbicos. Mesmo sendo uma substância
altamente lipossolúvel, ela não é absorvida no trato GI graças ao fato de que
os grupos hidrofílicos encontrados nas superfícies das membranas plasmáticas
repelem suas grandes moléculas hidrofóbicas.
O pH intracelular (7,0) é menor
do que o pH do meio extracelular (7,35).
Mais íons hidrogênio (íon H+, ou
prótons) são, portanto, encontrados dentro das células. O pH do meio ao redor
determina o nível em que as moléculas das drogas presentes nesse meio serão
ionizadas. A maior parte das drogas é de ácidos ou base fracas. Ácidos são
doadores de prótons e se ionizam liberando íons hidrogênio, isto é, ácidos se
ionizam por meio de dissociação; HA = A- + H+.
Bases se ionizam por meio de associação,
pois são aceptores de prótons (BH+ = B + H+). As drogas se acumularão
no lugar onde se ionizam (um fenômeno conhecido como “captura de íons”). Drogas
ácidas, portanto, tendem a permanecer no meio extracelular, enquanto drogas
básicas tendem a se acumular no compartilhamento intracelular. O grau de ionização
das moléculas de uma droga é determinado pelo pH do meio ao seu redor e pelo
pKa da droga (o pH no qual metade das moléculas da droga está ionizada).
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